9d.com Testes hormonais para menopausa são para todas as mulheres? Entenda como funcionam

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Testes hormonais para a menopausa não são recomendados como exame de rotina. — Foto: Freepik

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Testes hormonais para a menopausa não são recomendados como exame de rotina. — Foto: Freepik

Basta alguns dias de atraso na menstruação e o teste de gravidez surge como alternativa para tentar descobrir o motivo. Disponíveis em qualquer farmácia, eles não são 100% precisos, mas são muito populares para saber se a mudança no ciclo está acontecendo por causa de uma gestação.

Mas bem menos conhecidos são os testes para quando a mulher para definitivamente de menstruar, conhecidos como testes hormonais para menopausa.

➡️Diferentemente dos testes de gravidez, que detectam a presença do hormônio HCG no organismo, os testes para a menopausa são de dois tipos principais: dosagem do hormônio FSH ou do hormônio AMH. (entenda mais abaixo)

O ginecologista Luiz Francisco Cintra Baccaro explica que, ao contrário do que acontece em uma gravidez, os níveis desses hormônios podem variar muito ao longo do processo de climatério da mulher, o que não torna esses testes tão recomendáveis como no caso de gestações.

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"O diagnóstico do climatério e da própria menopausa é basicamente feito de forma clínica, ou seja, é baseado em sintomas que a paciente apresenta e em sinais de hipoestrogenismo (baixos níveis de estrogênio no corpo)", analisa Baccaro, que é membro da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Federação Brasileira das Associações em Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Apesar de não ser recomendado como exame de rotina para mulheres que já estão na faixa etária do climatério, os testes são indicados em casos em que há dúvida sobre o diagnóstico ou em pacientes com menos de 45 anos que começam a apresentar sintomas de hipoestrogenismo.

👉Na reportagem abaixo, você entende melhor:

Quais as diferenças entre os testes hormonais para a menopausa e os testes de gravidez – e por que exames para menopausa são mais imprecisos.Quais as diretrizes nacionais e internacionais para a detecção do climatério e da menopausa.Quando os testes hormonais para menopausa são recomendados e quais as limitações desse tipo de exame.

Testes hormonais para menopausa X testes de gravidez

Ainda que ambos identifiquem a presença de hormônios no organismo da mulher e possam ser feitos em casa (autoteste, com exame de urina) ou em laboratório (exame de sangue), os testes hormonais para menopausa e os testes de gravidez funcionam de maneiras diferentes.

👶Os testes de gravidez detectam o hormônio HCG (Gonadotrofina Coriônica Humana), produzido pelo corpo da mulher logo após a fertilização do óvulo pelo espermatozoide. Ele é secretado pela placenta durante a gravidez.

Baccaro lembra que esse hormônio só começa a ser produzido em grande quantidade no organismo a partir da fecundação, ou seja, não há níveis relevantes de HCG quando a paciente não está grávida – o que facilita o diagnóstico a partir dos testes.

🩸Já os testes hormonais para menopausa podem detectar diversos tipos de hormônios:

FSH (hormônio folículo-estimulante) - substância produzida na hipófise que estimula a ovulação e a produção de estrogênio. É o tipo de exame mais utilizado nesses casos.LH (hormônio luteinizante) - também produzido pela hipófise, estimula a produção de progesterona e a ovulação e o desenvolvimento folicular.AMH (hormônio anti-mileriano) - substância produzida no ovário que indica a quantidade de óvulos disponíveis.Estradiol - produzido nos ovários, atua em processos como o desenvolvimento das mamas e dos óvulos, crescimento dos pelos pubianos e preparação do útero para a gravidez.

Ao contrário do que acontece com o HCG no início da gravidez, a concentração do FSH – principal hormônio para se identificar o climatério – no corpo da mulher é muito variável, especialmente durante a transição para a menopausa.

"A dosagem de FSH varia muito ao longo dos meses quando a mulher está na transição menopausal. [...] E isso não acontece, por exemplo, no caso de uma gravidez. Se a paciente não está grávida, o HCG vai ser sempre negativo", compara Baccaro.

Flávia Fairbanks, mestre e doutora em ginecologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), ainda acrescenta que esses testes são uma tecnologia nova e que ainda devem passar por um processo de melhoria.

Ela pontua também que todos os testes de urina estão sujeitos a interferências e, uma vez que o resultado depende dos níveis de FSH, a variação torna o exame voltado para a menopausa menos preciso.

"Os testes estão dosando hormônios em que uma das possibilidades é o diagnóstico da menopausa, mas há outras alterações hormonais que eventualmente podem causar um desbalanço e interferir no resultado", analisa a ginecologista.

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Diagnóstico clínico

Além dos testes para a menopausa serem considerados um pouco imprecisos, os especialistas destacam que a orientação internacional e nacional é que o diagnóstico seja feito de maneira clínica.

➡️A Febrasgo, por exemplo, determina que o diagnóstico da menopausa é clínico e definido pela ausência de menstruação por 12 meses consecutivos, sem outras causas fisiológicas ou patológicas.

A federação ainda indica que a dosagem do FSH pode ser usada para auxiliar na definição do quadro, especialmente em casos de menopausa precoce, mas a dosagem isolada não é determinante fora do contexto clínico.

➡️O mesmo é indicado pela Menopause Society e pela European Menopause and Andropause Society (EMAS).

"Ainda hoje a gente tem a máxima de que o diagnóstico da menopausa é clínico. [...] Os exames são chamados de complementários e seriam só para confirmar o diagnóstico, não são obrigatórios", afirma Fairbanks.

Recentemente, um artigo publicado na revista científica "The BMJ" alertou para a desinformação envolvendo a menopausa e os testes hormonais, reforçando a ausência de recomendação dos exames para o diagnóstico.

"Os testes têm uso clínico limitado porque não há uma janela terapêutica claramente definida para a terapia hormonal na menopausa, e algumas técnicas de teste não oferecem uma avaliação precisa dos níveis hormonais", defendem os pesquisadores.

👉Baccaro ressalta que os principais sintomas que caracterizam, clinicamente, a aproximação da menopausa são:

Ondas de calor, com rubor na face e na região central do tórax, que são muito intensas e tendem a durar poucos minutos.Insônia, muitas vezes provocada pelas ondas de calor que acontecem durante a madrugada.Alteração típica do sangramento menstrual, com espaçamento de meses entre cada menstruação (até que o processo deixe de acontecer).

O ginecologista explica que, a partir do momento que a paciente está dentro da faixa etária prevista para a menopausa (a partir dos 45 anos) e começa a apresentar esses sintomas, já é possível dar o diagnóstico clínico da síndrome do climatério – que não precisa de nenhuma análise de dosagem hormonal para ser confirmada.

Limitações dos testes

Ainda que os testes não sejam indicados como exame de rotina e nem obrigatórios para definir se a mulher está se aproximando da menopausa, eles podem servir de apoio para o diagnóstico.

"Os testes laboratoriais são recomendados quando há dúvidas quanto a esse diagnóstico. Por exemplo, se eu tenho uma paciente com mais de 45 anos, só que tenho certeza de que o sintoma que ela está apresentando é decorrente de um hipoestrogenismo, posso utilizar os exames para ajudar na análise", exemplifica Baccaro.

Os ginecologistas também explicam que os testes podem ser usados por pacientes com menos de 45, para descartar uma menopausa precoce, por exemplo. Mas, nesses contextos, a investigação tende a ser bem mais complexa.

Flávia Fairbanks pondera que, nessas situações, é necessária cautela para fechar o diagnóstico, acompanhando a paciente mais de perto por mais tempo.

"Existem outros distúrbios hormonais que a mulher pode estar passando, como distúrbios endócrinos ou síndrome dos ovários policísticos, que podem levar a um quadro semelhante aos níveis hormonais na menopausa", compara Fairbanks.

Além disso, eles destacam que os resultados também podem sofrer interferência se a mulher faz uso de pílulas anticoncepcionais.

Para Baccaro, a grande limitação dos testes é que, além de dosarem hormônios com grande variação, sempre será necessária a análise de um médico para determinar o diagnóstico e indicar o melhor tratamento.

Fairbanks ainda completa que esse tipo de diagnóstico é sempre muito delicado para a mulher, algo que dificilmente pode ser definido somente por um valor em um exame, ainda que o resultado seja realmente a menopausa.

"Isso pode ter implicações para essa mulher do ponto de vista físico, de saúde em geral e também no aspecto emocional. A gente tem que ser sempre muito cuidadoso e ter muita certeza do diagnóstico que está sendo dado para aquela paciente", analisa.

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